"Escrevo com sangue e a melhor verdade

é uma verdade sangrenta."


Des-Velo a Rosa da atávica Dor e a escondo em outro Horror!

sábado, 16 de julho de 2011

There's a starman waiting in the sky...


Starman

(David Bowie)

Didn't know what time it was,
the lights were low
I leaned back on my radio
Some cat was layin' down
some rock 'n' roll 'lotta soul, he said
Then the loud sound did seem to fade
Came back like a slow voice on a wave of phase
That weren't no D.J. that was hazy cosmic jive


There's a starman waiting in the sky
He'd like to come and meet us
But he thinks he'd blow our minds
There's a starman waiting in the sky
He's told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile
He told me:
Let the children lose it
Let the children use it
Let all the children blue again


I had to phone someone so I picked on you
Hey, that's far out so you heard him too!
Switch on the TV we may pick him up on channel two
Look out your window I can see his light
If we can sparkle he may land tonight
Don't tell your poppa or he'll get us locked up in fright


There's a starman waiting in the sky
He'd like to come and meet us
But he thinks he'd blow our minds
There's a starman waiting in the sky
He's told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile
He told me:
Let the children lose it
Let the children use it
Let all the children blue again


Starman waiting in the sky
He'd like to come and meet us
But he thinks he'd blow our minds
There's a starman waiting in the sky
He's told us not to blow it
Cause he knows it's all worthwhile
He told me:
Let the children lose it
Let the children use it
Let all the children blue again









quarta-feira, 13 de julho de 2011

Oh poesia, me ajude a viajar...






Viagem

 (João de Aquino / Paulo Cesar Pinheiro)
 
Oh tristeza, me desculpe
Estou de malas prontas
Hoje a poesia veio ao meu encontro
Já raiou o dia, vamos viajar
Vamos indo de carona
Na garupa leve do vento macio
Que vem caminhando
Desde muito longe, lá do fi do mar
Vamos visitar a estrela da manhã raiada
Que pensei perdida pela madrugada
Mas que vai escondida
Querendo brincar
Senta nesta nuvem clara
Minha poesia, anda, se prepara
Traz uma cantiga
Vamos espalhando música no ar

Olha quantas aves brancas
Minha poesia, dançam nossa valsa
Pelo céu que um dia
Fez todo bordado de raios de sol
Oh poesia, me ajude
Vou colher avencas, lírios, rosas dálias
Pelos campos verdes
Que você batiza de jardins-do-céu
Mas pode ficar tranqüila, minha poesia
Pois nós voltaremos numa estrela-guia
Num clarão de lua quando serenar
Ou talvez até, quem sabe
Nós só voltaremos no cavalo baio
O alazão da noite
Cujo o nome é raio, raio de luar


 






O Homem; As Viagens








O Homem; As Viagens

Carlos Drummond de Andrade

Composição: Carlos Drummond de Andrade
O homem, bicho da terra tão pequeno
Chateia-se na terra
Lugar de muita miséria e pouca diversão,
Faz um foguete, uma cápsula, um módulo
Toca para a lua
Desce cauteloso na lua
Pisa na lua
Planta bandeirola na lua
Experimenta a lua
Coloniza a lua
Civiliza a lua
Humaniza a lua.

Lua humanizada: tão igual à terra.
O homem chateia-se na lua.
Vamos para marte - ordena a suas máquinas.
Elas obedecem, o homem desce em marte
Pisa em marte
Experimenta
Coloniza
Civiliza
Humaniza marte com engenho e arte.

Marte humanizado, que lugar quadrado.
Vamos a outra parte?
Claro - diz o engenho
Sofisticado e dócil.
Vamos a vênus.
O homem põe o pé em vênus,
Vê o visto - é isto?
Idem
Idem
Idem.

O homem funde a cuca se não for a júpiter
Proclamar justiça junto com injustiça
Repetir a fossa
Repetir o inquieto
Repetitório.

Outros planetas restam para outras colônias.
O espaço todo vira terra-a-terra.
O homem chega ao sol ou dá uma volta
Só para tever?
Não-vê que ele inventa
Roupa insiderável de viver no sol.
Põe o pé e:
Mas que chato é o sol, falso touro
Espanhol domado.

Restam outros sistemas fora
Do solar a col-
Onizar.
Ao acabarem todos
Só resta ao homem
(estará equipado?)
A dificílima dangerosíssima viagem
De si a si mesmo:
Pôr o pé no chão
Do seu coração
Experimentar
Colonizar
Civilizar
Humanizar
O homem
Descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
A perene, insuspeitada alegria
De con-viver.










sábado, 9 de julho de 2011

Método, que queres de mim?





O Bibliotecário * c. 1566
Giuseppe Arcimboldo
ost, 97 x 71 cm
Suécia, Bälsta, Skoklosters Slott


"Método, Método, que queres de mim?
Bem sabes que comi o fruto do inconsciente."



Violação * René Magritte





Secos & Molhados


Primavera Nos Dentes

(Composição: João Ricardo/João Apolinário)
 
Quem tem consciência para ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa a contra-mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade decepado
Entre os dentes segura a primavera





terça-feira, 5 de julho de 2011

A Po*Ética do Devaneio

A

PO
É
T
I
C
A

DO

D
E
V
A
N
E
I
O



*

Assim... Como 
"O Próprio Indizível Pessoal"





I
ÁGUA

‎"Tudo o que coração deseja 
pode sempre reduzir-se à figura da água."


Aqua * Giuseppe Arcimboldo *1566
óleo sobre madeira, 66,5 x 50,5 cm
Viena, Kunsthistorissches



Vinde, ó meus amigos, na clara manhã, 
cantar as vogais do regato! 
Onde está nosso primeiro sofrimento? 
É que hesitamos em dizer... 
Ele nasceu nas horas em que acumulamos em nós coisas caladas. 
O regato vos ensinará a falar ainda assim, apesar das dores e das lembranças, ele vos ensinará a euforia pelo eufuísmo, a energia pelo poema. 
Ele vos repetirá, a cada instante, 
alguma palavra bela redonda que rola sobre as pedras.

*Gaston Bachelard*
Dijon, 23 de agosto de 1941.



Enterrem Meu Coração na Curva do Rio
Dee Brown



A Canção Gracias  a la Vida interpretada pela bela Mercedes Sosa




II
Terra


Terra *Giuseppe Arcimboldo


"Megulha a cabeça na Turfa,
Encrava-a na terra.
Teu domicílio é a turfa,
É na terra que tu moras"








  

—  Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.  
—  é de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe  
neste latifúndio.  
—  Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.  
—  é uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.  
—  é uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.  
—  é uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.

  
—  Viverás, e para sempre
na terra que aqui aforas:
e terás enfim tua roça.  
—  Aí ficarás para sempre,
livre do sol e da chuva,
criando tuas saúvas.  
—  Agora trabalharás
só para ti, não a meias,
como antes em terra alheia.  
—  Trabalharás uma terra
da qual, além de senhor,
serás homem de eito e trator.  
——  Trabalhando nessa terra,
tu sozinho tudo empreitas:
serás semente, adubo, colheita.  
—  Trabalharás numa terra
que também te abriga e te veste:
embora com o brim do Nordeste.  
—  Será de terra
tua derradeira camisa:
te veste, como nunca em vida.  
—  Será de terra
e tua melhor camisa:
te veste e ninguém cobiça.  
—  Terás de terra
completo agora o teu fato:
e pela primeira vez, sapato.  
—  Como és homem,
a terra te dará chapéu:
fosses mulher, xale ou véu.  
—  Tua roupa melhor  
será de terra e não de fazenda:
não se rasga nem se remenda.  
—  Tua roupa melhor
e te ficará bem cingida:
como roupa feita à medida.

  
—  Esse chão te é bem conhecido
(bebeu teu suor vendido).  
—  Esse chão te é bem conhecido
(bebeu o moço antigo)  
—  Esse chão te é bem conhecido
(bebeu tua força de marido).  
—  Desse chão és bem conhecido
(através de parentes e amigos).  
—  Desse chão és bem conhecido
(vive com tua mulher, teus filhos)  
—  Desse chão és bem conhecido
(te espera de recém-nascido).


—  Não tens mais força contigo:
deixa-te semear ao comprido.  
—  Já não levas semente viva:
teu corpo é a própria maniva.  
—  Não levas rebolo de cana:
és o rebolo, e não de caiana.  
—  Não levas semente na mão:
és agora o próprio grão.  
—  Já não tens força na perna:
deixa-te semear na coveta.  
—  Já não tens força na mão:
deixa-te semear no leirão.

  
—  Dentro da rede não vinha nada,
só tua espiga debulhada.  
—  Dentro da rede vinha tudo,
só tua espiga no sabugo.  
—  Dentro da rede coisa vasqueira,
só a maçaroca banguela.  
—  Dentro da rede coisa pouca,
tua vida que deu sem soca.

  
—  Na mão direita um rosário,
milho negro e ressecado.  
—  Na mão direita somente
o rosário, seca semente.  
—  Na mão direita, de cinza,
o rosário, semente maninha,  
—  Na mão direita o rosário,
semente inerte e sem salto.


—  Despido vieste no caixão,
despido também se enterra o grão.  
—  De tanto te despiu a privação
que escapou de teu peito à viração.  
—  Tanta coisa despiste em vida
que fugiu de teu peito a brisa.  
—  E agora, se abre o chão e te abriga,
lençol que não tiveste em vida.  
—  Se abre o chão e te fecha,
dando-te agora cama e coberta.  
—  Se abre o chão e te envolve,
como mulher com que se dorme. 


João Cabral de Melo Neto
in
Morte e Vida Severina









III

Fogo




Fogo
Giuseppe Arcimboldo




"Minha solidão já está pronta para queimar quem a queimará."
 
 

A arte de saltar de si mesmo é considerada em toda a parte como o ato mais alto. 
É o ponto de origem da vida. 
A chama não é nada mais que um ato dessa espécie. Assim a filosofia começa aí, onde o filosofante filosofa a si mesmo, isto é, se consome e se renova.

*Gaston Bachelard*
 
 
 O fogo é belo em si mesmo e entre os outros elementos está no nível das ideias. É o mais elevado, por sua posição, e o mais leve de todos os corpos pois é vizinho do incorporeo; é sozinho e não acolhe em si os outros elementos embora os outros elementos o recebam. Estes de fato podem se inflamar enquanto aquele não pode se resfriar. É o primeiro a ter em si as cores e as outras coisas recebem dele forma e cor
*Plotino*

 

 
 
IV 
Ar
 

"Não fugis diante de vós mesmos vós que subis?"
 
 
 
"O que és, não o sabemos..." 
Nem o saberemos, jamais!
 
"O que és, não o sabemos..." Nem (jamais) o saberemos...
 
 

Pavão Misterioso

(Ednardo)

Composição: Ednardo
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...
Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse seu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda, cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo, oh!
Que não é certo não...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar...

"O Próprio Indizível Pessoal"
(Assim como Os Seus Indizíveis)



Giuseppe Arcimboldo


Aos Elementos 
Água Terra Fogo Ar
que
alimentam
A
I
M
A
G
I
N
A
Ç
Ã
O
e o
Ato Criativo

o meu desejo e-terno das coisas provisórias


Roberta Aymar

08 de julho de 2011