"Escrevo com sangue e a melhor verdade

é uma verdade sangrenta."


Des-Velo a Rosa da atávica Dor e a escondo em outro Horror!

terça-feira, 5 de julho de 2011

A Po*Ética do Devaneio

A

PO
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C
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N
E
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O



*

Assim... Como 
"O Próprio Indizível Pessoal"





I
ÁGUA

‎"Tudo o que coração deseja 
pode sempre reduzir-se à figura da água."


Aqua * Giuseppe Arcimboldo *1566
óleo sobre madeira, 66,5 x 50,5 cm
Viena, Kunsthistorissches



Vinde, ó meus amigos, na clara manhã, 
cantar as vogais do regato! 
Onde está nosso primeiro sofrimento? 
É que hesitamos em dizer... 
Ele nasceu nas horas em que acumulamos em nós coisas caladas. 
O regato vos ensinará a falar ainda assim, apesar das dores e das lembranças, ele vos ensinará a euforia pelo eufuísmo, a energia pelo poema. 
Ele vos repetirá, a cada instante, 
alguma palavra bela redonda que rola sobre as pedras.

*Gaston Bachelard*
Dijon, 23 de agosto de 1941.



Enterrem Meu Coração na Curva do Rio
Dee Brown



A Canção Gracias  a la Vida interpretada pela bela Mercedes Sosa




II
Terra


Terra *Giuseppe Arcimboldo


"Megulha a cabeça na Turfa,
Encrava-a na terra.
Teu domicílio é a turfa,
É na terra que tu moras"








  

—  Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a cota menor
que tiraste em vida.  
—  é de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe  
neste latifúndio.  
—  Não é cova grande.
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.  
—  é uma cova grande
para teu pouco defunto,
mas estarás mais ancho
que estavas no mundo.  
—  é uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.  
—  é uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.

  
—  Viverás, e para sempre
na terra que aqui aforas:
e terás enfim tua roça.  
—  Aí ficarás para sempre,
livre do sol e da chuva,
criando tuas saúvas.  
—  Agora trabalharás
só para ti, não a meias,
como antes em terra alheia.  
—  Trabalharás uma terra
da qual, além de senhor,
serás homem de eito e trator.  
——  Trabalhando nessa terra,
tu sozinho tudo empreitas:
serás semente, adubo, colheita.  
—  Trabalharás numa terra
que também te abriga e te veste:
embora com o brim do Nordeste.  
—  Será de terra
tua derradeira camisa:
te veste, como nunca em vida.  
—  Será de terra
e tua melhor camisa:
te veste e ninguém cobiça.  
—  Terás de terra
completo agora o teu fato:
e pela primeira vez, sapato.  
—  Como és homem,
a terra te dará chapéu:
fosses mulher, xale ou véu.  
—  Tua roupa melhor  
será de terra e não de fazenda:
não se rasga nem se remenda.  
—  Tua roupa melhor
e te ficará bem cingida:
como roupa feita à medida.

  
—  Esse chão te é bem conhecido
(bebeu teu suor vendido).  
—  Esse chão te é bem conhecido
(bebeu o moço antigo)  
—  Esse chão te é bem conhecido
(bebeu tua força de marido).  
—  Desse chão és bem conhecido
(através de parentes e amigos).  
—  Desse chão és bem conhecido
(vive com tua mulher, teus filhos)  
—  Desse chão és bem conhecido
(te espera de recém-nascido).


—  Não tens mais força contigo:
deixa-te semear ao comprido.  
—  Já não levas semente viva:
teu corpo é a própria maniva.  
—  Não levas rebolo de cana:
és o rebolo, e não de caiana.  
—  Não levas semente na mão:
és agora o próprio grão.  
—  Já não tens força na perna:
deixa-te semear na coveta.  
—  Já não tens força na mão:
deixa-te semear no leirão.

  
—  Dentro da rede não vinha nada,
só tua espiga debulhada.  
—  Dentro da rede vinha tudo,
só tua espiga no sabugo.  
—  Dentro da rede coisa vasqueira,
só a maçaroca banguela.  
—  Dentro da rede coisa pouca,
tua vida que deu sem soca.

  
—  Na mão direita um rosário,
milho negro e ressecado.  
—  Na mão direita somente
o rosário, seca semente.  
—  Na mão direita, de cinza,
o rosário, semente maninha,  
—  Na mão direita o rosário,
semente inerte e sem salto.


—  Despido vieste no caixão,
despido também se enterra o grão.  
—  De tanto te despiu a privação
que escapou de teu peito à viração.  
—  Tanta coisa despiste em vida
que fugiu de teu peito a brisa.  
—  E agora, se abre o chão e te abriga,
lençol que não tiveste em vida.  
—  Se abre o chão e te fecha,
dando-te agora cama e coberta.  
—  Se abre o chão e te envolve,
como mulher com que se dorme. 


João Cabral de Melo Neto
in
Morte e Vida Severina









III

Fogo




Fogo
Giuseppe Arcimboldo




"Minha solidão já está pronta para queimar quem a queimará."
 
 

A arte de saltar de si mesmo é considerada em toda a parte como o ato mais alto. 
É o ponto de origem da vida. 
A chama não é nada mais que um ato dessa espécie. Assim a filosofia começa aí, onde o filosofante filosofa a si mesmo, isto é, se consome e se renova.

*Gaston Bachelard*
 
 
 O fogo é belo em si mesmo e entre os outros elementos está no nível das ideias. É o mais elevado, por sua posição, e o mais leve de todos os corpos pois é vizinho do incorporeo; é sozinho e não acolhe em si os outros elementos embora os outros elementos o recebam. Estes de fato podem se inflamar enquanto aquele não pode se resfriar. É o primeiro a ter em si as cores e as outras coisas recebem dele forma e cor
*Plotino*

 

 
 
IV 
Ar
 

"Não fugis diante de vós mesmos vós que subis?"
 
 
 
"O que és, não o sabemos..." 
Nem o saberemos, jamais!
 
"O que és, não o sabemos..." Nem (jamais) o saberemos...
 
 

Pavão Misterioso

(Ednardo)

Composição: Ednardo
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse teu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...
Pavão misterioso
Nessa cauda
Aberta em leque
Me guarda moleque
De eterno brincar
Me poupa do vexame
De morrer tão moço
Muita coisa ainda
Quero olhar...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Tudo é mistério
Nesse seu voar
Ai se eu corresse assim
Tantos céus assim
Muita história
Eu tinha prá contar...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
No escuro dessa noite
Me ajuda, cantar
Derrama essas faíscas
Despeja esse trovão
Desmancha isso tudo, oh!
Que não é certo não...
Pavão misterioso
Pássaro formoso
Um conde raivoso
Não tarda a chegar
Não temas minha donzela
Nossa sorte nessa guerra
Eles são muitos
Mas não podem voar...

"O Próprio Indizível Pessoal"
(Assim como Os Seus Indizíveis)



Giuseppe Arcimboldo


Aos Elementos 
Água Terra Fogo Ar
que
alimentam
A
I
M
A
G
I
N
A
Ç
Ã
O
e o
Ato Criativo

o meu desejo e-terno das coisas provisórias


Roberta Aymar

08 de julho de 2011





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